Para entender o problema que o stress hídrico causa sobre a nodulação da soja e, consequentemente, sobre o aporte de nitrogênio para a planta, duas premissas: 1 – nenhum ser vivo vive sem água e 2 – o inoculante é um produto com seres vivos.

A partir de 15 de setembro inicia-se a semeadura de soja no Brasil, com o fim do vazio sanitário e início das chuvas no centro oeste. Neste ano, entretanto, com o atraso das chuvas, o agricultor ficou em um dilema: ou “semeava no pó”, jogando as sementes inoculadas em um solo seco, sem condições de umidade suficiente para provocar a germinação das sementes e muito menos a sobrevivência das bactérias, ou atrasava a semeadura, perdendo a janela ideal para a soja e atrasando o plantio do milho na segunda safra.

Claro que cada agricultor sabe trabalhar sua área e medir seus riscos melhor que ninguém. A verdade é que nenhuma das duas soluções é a ideal, mas a agricultura está desde sempre sujeita à natureza, que tem suas próprias leis.

Desta forma, há agricultores que semearam com o solo super seco, aguardando as chuvas tardias e outros que ainda aguardam a regularização do sistema hídrico para implantar a lavoura. Outros, mais precavidos, ainda dividiram a área em duas e semearam uma metade e aguardam para semear a outra.

Mas, seja qual for a situação, o importante é que, de agora em diante, quem semeou em solo seco faça um criterioso monitoramento da lavoura, observando frequentemente como está a nodulação de sua soja. É fato que, em solo que permaneça sob condição de ausência de umidade por alguns dias, a mortalidade das bactérias do inoculante será quase que total. Os  inoculantes com protetores celulares, que garantam uma sobrevivência de sete ou quinze dias, poderão aumentar a chance de sucesso, pela maior resistência das bactérias à falta de água.

Doze a quinze dias após a emergência, deve-se fazer uma vistoria, arrancando algumas plantas com a raiz o mais intacta possível e observar a nodulação. Nesta fase já deve existir uma nodulação inicial, naturalmente com nódulos pequenos, localizados na coroa da raiz e na raiz principal. Havendo, nesta fase, de dez a doze nódulos, teremos uma boa indicação que há bactérias vivas no solo e que no correr dos próximos dias haverá uma boa nodulação.

Entre vinte e trinta dias deverá ser feita uma nova verificação. Em paralelo é necessário observar a parte aérea, para ver se não há o típico sintoma de folhas amarelecidas, indicando baixo suprimento de nitrogênio. Nesta segunda verificação, mais uma vez vamos contar o número de nódulos na coroa da raiz e na raiz principal. Aí o tamanho dos nódulos já deverá ser maior, bem como o número, entre vinte e trinta. A partir daí, verificadas estas condições e com uma boa umidade, a nodulação deverá caminhar para fornecer um bom suprimento de nitrogênio durante todo o ciclo.

Entretanto, se as condições de falta de água foram de tal maneira severas que inviabilizaram a nodulação, a correção do N na lavoura faz-se necessária. O uso de inoculante em pulverização pós semeadura ainda não está validada, embora haja diversos casos de sucesso para remediar situações de falha na nodulação. Nestes casos deve-se usar de três a cinco doses de inoculante líquido por hectare, diluídos em 100 L de água e pulverizar com a barra baixa, jato dirigido para o pé da planta, fora da hora do sol forte e com o solo úmido. A fase da planta ideal para esta aplicação é V3, embora possa ir até V4.  Em geral consegue-se recuperar a nodulação e o suprimento de N.

Quando a nodulação não ocorrer ou for muito pequena, aí deve-se recorrer a um agrônomo para ver a conveniência econômica de aplicar fertilizante nitrogenado, o que somente deverá ser o último caso.

Portanto reitera-se a conveniência de ter o máximo cuidado com o inoculante, tendo a consciência de que se trata de um produto fundamental para o cultivo da soja, fornecendo o nutriente exigido em maior quantidade pela cultura.

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