Estamos escrevendo este artigo em plena ocorrência da pandemia do Covid 19. Tomado de surpresa, o mundo espanta-se com o que só se via em filmes de ficção científica. Mudanças bruscas, destruindo as verdades nas quais acreditávamos como fazendo parte, indelevelmente, de nossas vidas. Como não poder viajar? Como ficar em casa por dias, semanas? E sem abraçar, visitar, ir em grupos a bares e restaurantes?

E de onde está vindo o alívio para os doentes nos hospitais? De onde vêm os remédios, que embora ainda de forma tentativa, estão salvando vidas?

Enquanto isso, centenas, milhares de cientistas, pelo mundo a fora buscam os mais eficazes meios para desenvolver remédios e, o melhor, para prevenir a doença, o desenvolvimento de uma vacina. De onde surgirão as soluções para que, o mais rápido possível, se consiga vencer mais esta etapa dolorosa da Humanidade? Somente com uma estrutura de ciência muito bem alicerçada em equipes de alto desempenho, em laboratórios públicos e privados bem equipados e com histórico de consistência em pesquisas ao longo de muitos anos, será possível encontrar as soluções para este e outros problemas que, certamente, virão ao longo do tempo assolar o ser humano.

A pesquisa não se faz aos saltos, por “estalos” de gênios. Isto ocorre, mas muito raramente, em algumas questões pontuais. A pesquisa é feita pelo acúmulo dos conhecimentos. O que Pasteur descobriu há quase dois séculos ainda serve de base para muitos conhecimentos de microbiologia. As novas descobertas ao longo de duzentos anos foram se acumulando, se superpondo, se completando e o resultado é o conhecimento acumulado que permite o atual estágio de ciência e tecnologia no qual vivemos, e de onde vêm e virão, as soluções para muitos de nosso problemas, em todos os segmentos de vida humana.

O que hoje temos de avanços na ciência e tecnologia, o que hoje desfrutamos de medicamentos, de procedimentos, em qualquer das atividades humanas, são frutos de pesquisas conduzidas há dez, vinte anos. A persistência, a continuidade até mesmo de equipes que se sucedem ao longo do tempo, gerou os benefícios que hoje utilizamos.

Na área de agricultura conhecemos muito bem este caminho. A produtividade agrícola brasileira é um exemplo para todo o mundo. De um país importador líquido de alimentos, o Brasil passou para um país não só com suficiência alimentar, como um exportador de comida para todo o mundo. E esta mudança de patamar de deve, basicamente, ao investimento na geração de conhecimentos, na transformação destes conhecimentos em tecnologia e no uso, na transmissão e no emprego no dia a dia, destas tecnologias por parte do agricultor.

Há toda uma história, um acúmulo de conhecimentos ao longo dos anos, por parte das universidades, dos institutos de pesquisa, das empresas do ramo agrícola e, mais recentemente, por parte da Embrapa. Isto permitiu que a soja passasse de uma produtividade de 1500 kg/ha para mais de 4.000 kg. No período de 1975 a 2016, o crescimento médio da produtividade foi de 3,85% ao ano. Esse resultado reflete o que tem sido feito em pesquisa, e o uso de novos sistemas de produção, entre eles o plantio direto que trouxe aumento expressivo na produtividade de milho, soja e algodão (Embrapa Soja Londrina). Gasques et al – IPEA – Carta de Conjuntura, No 38. 1o trimestre, 2018.

No caso específico da fixação biológica do nitrogênio, como já temos mostrado em artigos anteriores, a geração de conhecimentos por parte da área oficial de pesquisa foi, e é, fundamental para o desenvolvimento da atividade. Os conhecimentos gerados nas instituições oficiais, somados com a tecnologia gerada pelas empresas produtoras de inoculante, levaram o Brasil a ser o líder na utilização do nitrogênio via biológica para leguminosas, hoje se estendendo para outras famílias de plantas. Mais de 80% dos plantadores de soja utilizam o inoculante como fonte de nitrogênio em suas lavouras. Isto significa uma economia substancial para o agricultor, para diminuição das importações e, de fundamental importância, para o meio ambiente, que se beneficia com o uso de um insumo natural, totalmente compatível com os atuais critérios de sustentabilidade na agricultura

Assim, uma sólida estrutura de pesquisa é a segurança de que a evolução será contínua, trazendo, ao longo de gerações, mais saúde, mais alimentos, mais conforto para o ser humano.

Compartilhar