Durante muitos anos a pesquisa para emprego agrícola da microbiologia do solo se restringiu quase que exclusivamente ao uso de bactérias fixadoras do nitrogênio. Estas pesquisas, como já historiamos em artigos anteriores, levou a um dos grandes sucessos da agricultura, em especial na cultura da soja, qual seja o cultivo da leguminosa com praticamente zero de fertilizantes nitrogenados, trazendo substanciais ganhos para a rentabilidade do agricultor, do país e da sociedade como um todo, pelos ganhos ambientais que o uso destas bactérias traz para a sustentabilidade.

Já no início do Sec. XXI, o uso de bactérias fixadoras do nitrogênio, no caso o Azospirillum, foi estendido às gramíneas, iniciando um novo ciclo no emprego de microrganismos na agricultura.

Mas ainda era pouco. Se pensarmos nos bilhões de microrganismos que envolvem as raízes de uma planta, e raciocinarmos que estes seres não estão ali por estarem, sem uma função, sem uma interação entre si e com as raízes, vemos que há um enorme campo para estudos não apenas teóricos, do conhecimento pelo conhecimento, mas sim na aplicação agronômica das informações auferidas por estudos e pesquisas.

Ao se verificar que o papel do Azospirillum não se limitava a fixar nitrogênio, mas que a produção de hormônios vegetais, em especial o ácido indol acético – AIA, exercia um papel preponderante no desenvolvimento das plantas, juntaram-se estes dados com outros já conhecidos, de bactérias dos gêneros Bacillus e Pseudomonas na solubilização de fósforo e também na produção de hormônios vegetais, e um novo capítulo se abriu: o das bactérias promotoras de crescimento vegetal, conhecidas em inglês como PGPR – Plant Growth Promotion Bacteria ou, em português, como  Bactérias Promotoras do Crescimento Vegetal – BPCV.

“Bactérias promotoras de crescimento vegetal (BPCV), ou  bactérias promotoras de crescimento  de  plantas,  incluem  microrganismos  de  vida  livre,  que  formam  relações simbióticas especificas com plantas, endófitos bacterianos que podem colonizar alguns ou uma grande parte dos tecidos de uma planta, e cianobactérias” (GLICK, 2012, in: Bactérias Promotoras de Crescimento Vegetal: da FBN à regulação hormonal, possibilitando novas aplicações – Guimarães et al, 2018 ).

Ao se entender, embora ainda de forma parcial, a presença e a comunicação ativa entre os microrganismos do solo com as plantas, começa-se a abrir um caminho sem volta, em forma de um amplo leque, com inúmeras conexões entre bactéria, plantas, nutrientes, mecanismos de crescimento e de defesa das plantas contra fatores bióticos e abióticos. Muitas vezes procura-se, nas pesquisas, identificar o principal papel de uma bactéria ou fungo no desenvolvimento de uma planta. Mas quanto mais se estuda, mais o leque se amplia, pois as funções são múltiplas, com profundas interações entre as bactérias em si e a planta. Uma bactéria pode exercer preponderantemente uma função, como por exemplo, produção de um hormônio, em uma determinada fase da planta e, posteriormente, em outra fase, passar a exercer uma função de antagonismo a um patógeno ou até de indução de resistência, instrumentalizando a planta para resistir ou tolerar em agente patogênico.

Estudando-se o microbioma do solo cada vez mais o micro passa a ser macro, seja pelo número de microrganismos, como pela importância que ele representa no ambiente de produção agrícola. Cremos que dois fatores tornarão a pesquisa e a atividade agrícolas fundamentalmente diferentes daqui para a frente: o uso das tecnologias de informática e de comunicação na agricultura e a abordagem da microbiologia do solo em uma visão holística, integrada com todas as demais práticas agrícolas que tanto tem contribuído para o aumento da produtividade.

As empresas associadas à ANPII estão desenvolvendo projetos de pesquisa junto com Universidades para criar produtos com microrganismos promotores de crescimento, sendo que já produzem inoculantes com esta finalidade.

Muitas novidades surgirão nos próximos anos, trazendo mais produtividade e rentabilidade para o agricultor.

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